segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Violência obstétrica - A voz das brasileiras!

Hoje é uma postagem especial!

Participei de uma pesquisa de âmbito nacional cooperando para a coleta de dados sobre a violência obstétrica que muitas brasileiras sofrem quando vão dar a luz aos seus bebês. É uma realidade tão triste do nosso país que está mais do que na hora de dar um basta! Porque os profissionais que estão ali justamente para dar apoio, informação são os primeiros a coagir, maltratar, punir e ironizar estas mulheres...

Como? Porque? É o que todas gostaríamos de saber...

Com que direito, por exemplo, uma enfermeira vira em tom de piada e deboche para uma recém-mãe na alta do hospital e diz "até ano que vem mãezinha"? Quem é ela pra sugerir que ela dali um ano estará com outro filho nos braços? E se for, o que ela tem a ver com isso?! Faz parte das designações do trabalho dela este tipo de comentário? Isso não é invenção, é real!

Ao assistir ao vídeo fiquei muito emocionada... Cada história... que me faz pensar o que passa na cabeça de um "profissional" da saúde para tratar as mulher, num momento destes, assim?!

Tire um tempo e ASSISTA ao vídeo!



Eu nem imaginava, mas sofri mais violências do que eu imaginava...

Eu tive a sorte de conhecer o modelo obstétrico brasileiro ainda grávida. Pude aprender muitas coisas, ficar atenta a outras... Mas hoje vejo que ainda havia ingenuidade em mim...

Eu sofri sim violência obstétrica, e aqui vai meu relato:

Durante o pré-natal, ao deixar meu médico ciente de que eu queria parto normal, e ao ele me dizer que faria sim "se tudo estivesse ok", perguntei sobre a episiotomia e ele sem dizer nada primeiro pegou um livro de medicina da gaveta da mesa, acertadamente abriu numa página onde havia desenho de diferentes graus de laceração do períneo por conta do não uso da episiotomia... Eu olhei aquilo com certo desdém, sabia que aquilo não era daquela forma. Que eram dados que não foram baseados em pesquisas científicas, em fatos e sim num cara a trocentos anos atrás que concluiu que era daquele jeito e fizeram DESENHOS para ilustrar o que poderia ocorrer. Disse que tudo bem , que podia lacerar, mas não queria que cortasse. O médico ainda tentou me persuadir, e por fim, sem eu ceder, falou, tudo bem, você que sabe, não posso garantir que não te aconteça nada... Com aquela cara, sabe, de quem quer dizer "se você quer se ferrar..."

A seguinte foi numa outra consulta médica, com outro GO que ao me perguntar sobre o parto normal que eu estava dizendo querer, me perguntou sobre a anestesia e eu disse que não queria. Ele disse bem assim: "isto você tem que avaliar bem, porque vocês dizem que não querem e depois não vai dar mesmo. Ou eu deixo o anestesista lá ou depois não dá pra chamar não!" Bom quer dizer que se houvesse uma emergência e precisasse de uma cesária ela seria feita a sangue frio? Coerção!

A próxima foi no hospital. Na sala do pronto socorro conversando com o médico e explicando minha decisão por um PN ele tentou de todas as formas que tinha me dissuadir de tentar um. Ao rebater todas suas possíveis e mentirosas indicações para uma cesária naquele momento ele fez o que foi certeiro. Começou a contar histórias de bebês que haviam morrido porque, segundo ele, as mães insistiram muito num PN! Falava coisas do tipo "ah eu fiquei lá, como a mãe queria né, mas não deveria ter aceitado, uma hora fiz um exame de toque e os cabelinhos do bebê já saíram na minha mãe, ele já estava morto... Mas você quem sabe... tem esses riscos aí..."

A quarta violência sofrida foi durante o preenchimento da ficha pela enfermeira chefe. Eu estava sem exames (que nunca me disseram que era necessário levar quando a hora chegasse, apenas o cartão da grávida) e meu cartão de grávida estava incompleto, pois passei por vários GOs e sempre fiquei com vergonha de dar o mesmo cartão para todos... Estava com o mais recente e a enfermeira sugeriu que meu marido fosse buscar os exames para ela ter certeza do que eu estava falando era verdade. Não queria acreditar nas minhas respostas, até que eu, já muito nervosa e irritada com a postura dela, fui grossa e estúpida, daí ela parou um pouco e escutou o que eu tinha pra falar.

A quinta violência sofrida foi na hora da anestesia. Durante a admissão eu já havia informado do meu medo a respeito daquele momento. Ao chegar no CC não me apresentaram o anestesista, ao me colocarem sentada eu imediatamente pedi para me avisarem quando o procedimento começasse porque eu estava tendo contração e não queria a anestesia no momento de uma, queria ser avisada para me preparar... Daí sem mais nem menos me jogam algo nas costas, eu desavisada retraio o corpo instintivamente e me seguram com mais força e começam duas enfermeiras a falar ao mesmo tempo "não, não faz isso não, relaxa" COMO??? Alguém explica como uma pessoa assustada, sem saber o que vai acontecer relaxa??? Entrei em pânico, e acredito que para acabar logo com a coisa já começam a dar a anestesia sem eu ser avisada nem nada... 1, 2, 3, 4, 5 vezes. CINCO picadas, CINCO forçadas na coluna, repuxões de um lado da perna, do outro também e NINGUÉM FALAVA COMIGO! Eu estava aterrorizada, gritando, chorando, desesperada achando que aquelas sensações iriam me aleijar! E o médico sentado a uns 3 metros de distância, braços cruzados, pernas cruzados, placidamente me falando "se você tivesse um aparto normal também levaria anestesia" Como se dissesse que não precisava aquele escândalo, aquilo aconteceria de qualquer maneira!

A sexta foi ter ficado amarrada a mesa, coisa completamente desnecessária.

A sétima foi minha filha não ser mostrada para mim, não falarem comigo dando informações sobre a condição que ela havia nascido. Não me deixaram pegá-la e nem pude amamentar na primeira hora. Só vi seu rostinho e nem consegui beijá-la. A levaram e nem disseram para onde, eu só falava para meu merido ficar com ela, ir atrás dela!

A oitava foram os médicos indecoroso falando a respeito de erro médico enquanto me fechavam. Erros com colegas ginecologistas, tais como gaze deixada no útero, agulha esquecida e etc... Eu ali aberta escutando tudo isso,

A nona foi ter ficado sozinha diversas vezes neste período de finalização sem ninguém falar comigo ou dizer o que  aconteceria em seguida.

A décima foi a bebê presa dentro do berçário pq as roupinhas não haviam chegado e negaram mandá-la para o quarto com o cobertor do hospital, nos negando o contato imediato após o nascimento.

A décima primeira foi a falta de explicações quanto ao estado da minha filha. Recebia recados pelas técnicas de enfermagem que nada sabiam explicar enquanto que a pediatra não se dava o trabalho de ir até o quarto explicar NADA. Só conseguimos alguma coisa depois de exigir e um pequeno piti para ela aparecer laaaaaáa depois do plantão!!!

A décima segunda foi a negação do meu sofrimento físico pós cirurgia. Ninguém acreditava que eu estava sentindo o tanto de dor que eu dizia... Nada foi feito para melhorar a não ser analgésicos comuns e nada mais! Recebi alta com 2 dias de cirurgia sem condição NENHUMA de voltar para casa. Mas mesmo assim "te vira minha filha"!

A décima terceira (e a gota d'água) foi, ao ir embora, cruzar com o clinico geral do PS e escutar dele que eu tinha tomado a decisão certa, melhor, pq assim eu não prejudicava nada lá embaixo, ficava com tudo inteiro sem precisar de uma cirurgia para consertar!!!!!!!!!

Eu já escrevi muito...

Que quiser saber informações a respeito da pesquisa e tudo mais no blog Cientista Que Virou Mãe você encontra muitas informações!

Mas sabe o que é o mais duro de tudo? É que somos nós mulheres que precisamos ficar de olhos abertos, desconfiadas, quando o sistema de saúde deveria nos dar aporte e confiança... Hoje confiar em quem? Em quase ninguém!