Quem pensa que vai ler uma colocação minha a respeito de como o autismo é encarado pela sociedade, ou as implicações pedagógicas, ou mesmo uma opinião pessoal minha, sinto lhes dizer que não foi pra isso que vim aqui!
E porque falar disso logo hoje?
Hoje no programa da Fátima Bernardes ela está abordando o tema, que também está sendo mostrada pela novela das nove (não sei comentar porque mal vejo). Mas me fez lembrar de um aluno que eu tive e que tinha Asperger. Pelo pouco que pude conhecer na época, é uma forma mais leve do autismo (ou um dos espectros do autismo - não sei mesmo, me desculpem).
Quando me deparei com esta criança eu estava assumindo minha primeira turma de ensino fundamental (5º ano), meu primeiro contato em toda minha vida profissional (recém-começada), nem estágio no ensino médio eu havia feito... Foi um tremendo baque e ao mesmo tempo que fiquei assusta fiquei com aquele sentimento de ter recebido uma bomba na mão.
Não sabia como agir, o que fazer, que atenção dar, o que oferecer a esta criança. Vamos aos fatos né! Na faculdade a gente vê superficialmente este assunto, muito superficialmente. Porque além desta, existem outras tantas condições diferentes e UMA matéria, em UM semestre se divide para abordar, por cima, um pouco de cada. O que sabemos no final? Somente que há o direito do ensino, de inclusão e que deve ser especializado. MAIS NADA! Sem contar que as discussões acerca de onde esse ensino deveria ser dado ocupavam um tempo precioso que poderia ser abordado estratégias de ensino, opções de abordagens nas diferentes condições especiais, entre tantas outras coisas...
Eu me lembro bem de um debate que durou algumas aulas sobre porque havia uma insistência tão grande por parte de alguns em inserir uma criança especial numa escola regular, se essa escola regular não receberia ajuda, auxílio e formação para lidar com essas crianças? Será que SÓ lutar pela inserção é mais importante do que buscar uma educação adequada? Na minha opinião as coisas deveriam andar juntas! Mas me incomodava muito o fato de se insistir só em inserir, sem ao menos pensar o que se faria com esta criança numa sala regular, me parecia sem propósito, apesar de entender a questão da inserção. Deu pra entender?!
Daí que saí da faculdade com um enorme medo de enfrentar essa situação. E qual não foi minha surpresa quando minha primeira turma, no meu primeiro ano de formada, me deparar com esta situação.
Foi fácil? Muito longe disso!
Dei conta de oferecer atividades diversificadas para todos os alunos e para a criança especial? Muito pouco!
Foi a situação ideal? Não!
Mas foi extremamente gratificante! Foi uma experiência maravilhosa! Aprendi tanto com aquela criança (me emociono de lembrar)
E na verdade eu vim escrever esse texto para dizer que eu sinto muitas saudades dela! Muita mesmo! Vivi situações inusitadas, como dar aula um dia com ela no meu colo! Uma criança bem maior que eu, mais forte e no meu colo cantarolando enquanto eu explicava matéria! Dá pra imaginar? Mas foi uma situação inesperada rsrs.
Ela desenvolveu um carinho por mim e eu um enorme por ela. Eu conseguia acalmá-la, eu conseguia conversar com ela, eu conseguia informações dela, onde outros não conseguiam estabelecer isso. Coisa mais gratificante escutar a mãe dizer que a sociabilidade da criança havia aumentado em uns 90% depois que frequentou a escola regular...
Eu ficava pensando o porque conseguia isso dele, onde outras pessoas não. Acho porque eu tentava entendê-lo ao invés de controlá-lo, permitia que ele dissesse o que queria, ao invés de pedir silêncio, eu o afirmava ou invés de negá-lo! Só consegui dar nome a isso hoje, depois que tive minha filha e senti a necessidade das crianças se expressarem ao invés de serem controladas o tempo todo. E sem querer, foi isso que fiz naquelas ocasiões.
Que inteligência, que inteligência! Certa vez ao assistir um filme do Chaplin, esta criança descreveu a imagem que via - contando a história - em espanhol! Fiquei de boca aberta!
Sou muito grata a Deus por ter tido essa oportunidade, com certeza me mudou muito! Com certeza é uma batalha e desafio enorme ser pais de crianças com autismo e síndromes similares, mas tenho certeza que são crianças surpreendentes!
Na minha opinião a sociedade precisa refletir muito a respeito das crianças com necessidades educacionais, e aproveitando a fala de uma amiga, que está se formando em pedagogia e seguirá se especializando em educação especial, na área de surdos (e ela me explicou que não é uma deficiência, é uma condição, por isso nomear de surdos e não deficiência auditiva - ela mesma vive isso em família - obrigada Lininha por compartilhar o que sabe), que ao invés de se debater o que é melhor para cada um deles, que tal perguntar à eles o que preferem? O que sentem necessidade? O que desejam? Para oferecermos o melhor precisamos avaliar também o que eles pensam e sentem que precisam!
Beijos!