terça-feira, 17 de agosto de 2010

Relato de amamentação


Nossa história de amamentação começou bem em alguns sentidos, ruins em outros, mas foi um caminho a ser percorrido, uma luta a ser vencida...

Lara infelizmente nasceu de uma cesárea desnecessária, induzida por um médico sem ética que colocou medo em mim e no meu marido. Assim que nasceu não pude vê-la, nem tocá-la, que amamentá-la como meus planos. Depois de aspirada, medida, pesada e isso e aquilo a trouxeram para eu ver, simplesmente ver. Daí seguiram-se o fechamento do buraco da barriga, a subida para o quarto (pelo menos não tive que ficar em sala de recuperação – fui direto para o quarto), e assim que cheguei lá, minutos depois, me trouxeram a pequena, ainda sem o banho, para mamar. Pensava que ainda era a primeira hora, mas não, já havia se passado algumas, poucas sim, mas algumas. Por sorte ou benção – prefiro acreditar que por benção – a Lara pegou de primeira, bonitinha, certinho, como deve ser, mas não sugou muito, não tinha muitas forças.

Aos poucos fomos sabendo do real estado dela... Estava bem, ótima, mas era um bebê de baixo peso, pré-termo (nasceu de 37 semanas) e PIG (pequeno para idade gestacional). Então mamar e ganhar peso era a ordem da situação. Porém era fraquinha, dormia muito, não acordava para mamar. Era preciso deixá-la quase só de fraldas para que acordasse e mamasse um pouco. As vezes engrenava e “mamava” por bastante tempo, mas não sugava muito, pois não tinha esta força.

Em menos de 24hs ela apresentou icterícia e as preocupações aumentaram. Foi para a fototerapia, o que a fazia suar e perder peso. Assim foram 2 dias. De 2,185k que nasceu, foi para 1,800k. Ficamos muito preocupados e meu leite que tinha acabado de descer não saia do peito. As enfermeiras vinham e apertavam, espremiam e nada, saia 2, 3 gotinhas de leite de dávamos mesmo assim pra ela. Mas ela tinha que mamar no máximo a cada 2hs e o máximo que desse para eliminar a biliburrina que causa a ictería. Mas com que leite??? Neste momento, mesmo sabendo que o meu leite era o melhor que poderia oferecer a minha filha perguntei sobre o complemento, a médica negou oferecer, pois como era pequena mesmo (prematura para a médica) não era aconselhado, podia dar alergias e etc. OK. Lá continuamos nós, a cada duas horas.

Cinco dias depois do dia que chegamos fomos para casa, com a Lara pesando 2,055k e uma receita de complemento caso fosse necessário. Chegando em casa tudo correu bem no início – como estava até então -, com 7 dias do nascimento voltamos na médica e a Lara havia engordado cerca de 19g/dia só no peito, ficamos muito felizes, mas ainda não estava liberada, com um peso fora de perigo. Era tão pequenininha, só lhe cabiam roupas de prematuro. Na semana que se seguiu ela chorava muito no peito, esticava as pernas, lutava, ainda não sugava bem, dormia muito e ainda estávamos no esquema de mamadas a cada 2 horas. Estávamos com medo de que ela pegasse alguma coisa e por seu baixo peso tudo se transformasse num pesadelo terrível, então decidimos pelo complemento (sozinhos mesmo, sem nenhuma indicação mais precisa médica) e dávamos cerca de 3 mamadeiras de 30ml por dia. Nesse meio tempo eu estava muito triste por isso que acontecia. A cada dia que passava meu leite diminuía ou a demanda aumentava, não sei dizer ao certo, sei que não era o suficiente. Junto a isso tinha um Baby Blues aterrador, que me deixava constantemente deprimida, não conseguia me alegrar e esta tristeza estava afetando a produção de leite não engrenar.

A parteira que faria meu parto nos visitou e nos disse a respeito do relactador, um sistema de amamentação com complemento no próprio seio materno por meio de sonda e nós fomos atrás de fazê-lo, afinal o que eu queria era amamentar exclusivamente até o 6º mês. Fizemos e em uma semana já vi uma pequena melhora. Mesmo assim ela nos indicou uma médica pediatra que também dava apoio a amamentação e lá fomos nós.

Depois de uma longa conversa e consulta maravilhosa com a Dra. Sandra, ela nos disse que não era necessário complemento, que pela evolução do peso dela poderíamos experimentar o leite materno exclusivamente para ver no que ia dar, e em 15 dias voltaríamos.
15 dia depois tudo bem, mas com muita luta. E assim seguimos, amamentando somente no peito.

Nós tivemos tempos de amamentação exclusiva, tempos de complemento 1 vez ao dia, dias tranqüilos de mamadas, outros bem complicados.

Fiz ordenha manual, ordenha com máquina, tomei muiiito chá, muiiita água, lentilha, milho, canjica, castanhas, tomei 2 homeopatias, fiz TUDO o que estava ao meu alcance para conseguir amamentar até o 6º mês exclusivamente. Ouvi muitas críticas por minha filha ser pequena e eu insistir em “só” amamentar. Mas a pediatra dela nos fortalecia a cada consulta, dizendo que ela estava bem, que ela nunca tinha perdido peso ou deixado de ganhar, sempre muito esperta e se desenvolvendo bem, que não havia motivos para complementar e a cada mês eu me fortalecia um pouco mais de tudo que havia acontecido no mês.
Houve sim períodos em que precisei complementar as mamadas, e eu fazia chorando e me desculpando, pois sentia uma certa incompetência da minha parte, mas era necessário e nestes momentos meu marido permanecia ao meu lado me consolando, dizendo que já fazíamos tudo, que eu não tinha culpa... me apoiava muiiito.

Minha filha sempre foi pequena, miúda, mas tinha dobrinhas, hoje a Lara está com 7 meses e meio. Linda, saudável – nunca teve NADA -, arteira, enérgica. Mamou até o 6º mês exclusivamente no peito, aos trancos e barrancos, mas mamou e com 6 meses começamos a introduzir os alimentos sólidos complementares. Ela aceitou TUDO muito bem, come muito bem e gosta de tudo que prova. Ainda amamento nos intervalos das papas e a noite, e sempre em livre demanda
.
Pretendo continuar amamentando até os 2 anos pelo menos e ir seguindo enquanto for bom pra ele e para mim.

O caminho que tivemos não foi fácil, tínhamos TUDO para desistir, para ir pelo caminho mais fácil, mas decidimos lutar e fazer o que achamos ser o certo e o MELHOR. Lutamos e não foi fácil, mas foi maravilhoso e muito compensador. O olhar dela para mim enquanto amamento não tem preço, o carinho da mãozinha dela no meu rosto ou no meu seio, a ligação que se estabelece não tem preço.
Amamentar não é somente BOM é necessário para a construção da ligação mãe-bebê, faz bem a um e a outro, é prático, barato!

Não me arrependo em momento algum dos caminhos que escolhi traçar, de ter lutado, sofrido, chorado... Tudo foi válido, tudo é válido quando se trata da saúde e bem estar do nosso bebê.

Hoje tenho a sensação de dever cumprido, mas não acabado. Continuo tomando chás, tomando minhas duas homeopatias e sigo amamentando e assim será!

Gostaria que as pessoas tivessem consciência da importância da amamentação, que frases como “Ah, mas se precisar complementar, não tem problema, não fará mal, é para o bem do bebê!” deixassem de existir. Tem problema sim gente!
Se carregamos por 9 meses um bebê na barriga, passamos por enjôos, dores no corpo, limitações, hormônios a mil e etc... Lutar pela amamentação vai no mesmo sentido. Nada na vida vem fácil, é preciso lutar.

Para algumas tudo transcorre fácil, normalmente, tudo flui, para outras, como eu, as coisas acontecem de maneira truncada, difícil, cercada de dúvidas, e lutar por uma amamentação sadia, completa e no mínimo por 6 meses é obrigação materna!

Este relato é para aquelas que tem dificuldades neste processo, para que não desistam, para que saibam que sempre há solução, existe saídas, mas é preciso buscá-las, lutar e no fim a recompensa virá!

Agradeço a Deus pelo dom da maternidade, pela consciência do meu ser maternal, por ter conseguido, mesmo com as lutas, amamentar e ainda continuar nesta empreitada;
À querida Ivanilde, minha parteira do coração, por ter me ajudado, me escutado, me mostrado caminho e ter sempre estado disponível para mim;
Às queridas maternas da lista matrice que sempre deram apoio e incentivo, me ajudando a acreditar em mim, dando dicas, me impulsionando a nunca desistir da amamentação exclusiva materna, vocês são lindas, moram no meu coração!
Á querida Dra. Sandra que com sua doçura, carinho e tato sempre nos deu certeza da saúde da Lara, nos incentivando a continuar amamentando, sendo compreensiva e ouvinte quando necessário, por toda sua imensa ajuda, sem ela eu não teria perseverado e teria desistido no meio do caminho. A amamentação da Lara só foi possível graças à ela!
E ao meu marido, companheiro em todos os momentos, paciente e carinhoso, que me escolheu e me aceitou com todas minhas falhas e implicâncias, que nunca cansa de mim e nunca me deixou desacreditar que eu era capaz! Eu te amo sempre!

MUITO OBRIGADA!

4 comentários:

Marynna's blog disse...

Oi Pammm... lindo seu relato, pra mim felizmente foi fácil, mas como um passe de mágica ela recusou o peito com 7 meses, tentei, mas tbm não insisti mto devido a lactose e tal, assunto longgooo. Mas fiquei muito feliz e penso como vc... Parabénssssss pra vcs e pro papai tbm que nessa hr graças a Deus temos apoio né? Beijos

Letícia Duarte disse...

Oi Pâmela,
Incrível como essas criaturinhas nos transformam em seres-humanos mais fotes, batalhadores, incansáveis, não é mesmo? E o mais lindo de tudo é descobrir como vale a pena cada milésimo do nosso esforço. Esse é o maior investimento que podemos fazer!!! Não bastasse a satisfação pessoal de fazer o bem a quem muito amamos, há também a satisfação em saber que estamos contribuindo para uma humanidade! Somente a pureza de uma criança poderia mesmo nos tocar assim... Parabéns pelo seu esforço. Que Deus lhe encha de inspiração para, a cada dia, se superar ainda mais. Nós somos capazes! Acabei lendo outros posts por aqui... E quanto à cesárea, sei que é muito difícil superar uma decepção. Mas lhe trate com carinho. Não lhe maltrate com ressentimentos não! Afinal, o importante não é o que fizeram com vc, mas o que vc pode fazer com o que lhe fizeram. Canalize tudo isso de forma positiva aos cuidados com sua Lara. O bom da vida é isso: há sempre tempo para recomeçar. Também vivo meus altos e baixos, crises recorrentes que tb atribuo ao Baby Blues. Mas se fôssemos perfeitas não pertenceríamos mais a este mundo. É vivendo que se aprende. Ah, meu maridão também é Wil,e o companherismo então deve ser característica do nome. Beijos no coração dessa família.

Marcia Farias disse...

Pam,lindo teu relato.
Meu sonho sempre foi amamentar e como tomo anticonvulsivantes meu medo era de nunca conseguir..O Fábio SEMPRE acreditou que conseguiria e quando decidimos começar as tentativas, depois de encontrar uma GO, fui procurar um neuro para ver o que poderia fazer para amamentar. Depois de ir ao primeiro médico, ao segundo, ao terceiro,tomamos uma decisào, troquei o remédio,meu corpo aceitou, nunca tive nada e hj a Pietra está com 10 meses e ela só nào mamou exclusivo até os 6 meses pq eu voltei a trabalhar antes...eu AMO amamentar, AMO sentir o carinho dela, AMO tudo o que se relaciona a isso.
Também acredito que TODO e qualquer sacrifício vale a pena para que nossos filhotes estejam bem. A Pietra tbm nunca teve nada, mesmo indo para a escolinha desde os 5 meses...
Adorei teu post...

parabéns,amiga

Marcia

Isabela Sady disse...

Pam,
Adorei seu relato...espero poder amamentar a Nina o máximo possível.
beijão