sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Retro Lara 31/12/2009!!!

Poiis é, praticamente um ano se passou! Digo praticamente poruqe ainda não chegou a hora em que minha filhinha saiu da minha barriga para este mundão todo!

Continuo minha retrospectiva do nascimento, tentando absorver e entender mais e tentando deixar para tras a tristeza que envolveu as circunstâncias do parto afim de me libertar para a vida!

Depois de me deitar, já com as roupas escolhidas que levaria para a maternidade - porque eu não queria admitir, mas sabia que o Wil tinha razão que iríamos para o hospital -, deitamos, para tentar descansar e dormir.

Lá pelas 3 e tantas da manhã comecei a sentir algo estranho, uma dorzinha boba. Passou. Voltou. Passou. Voltou. Opa, isso era contrações ou cólicas? Pra mim era cólicas, não sentia a barriga endurecer nem nada. Levantei, despertei o marido e começamos a contar o tempo de intervalo, esquecemos de contar a duração, mas não era nem 1 min. Acho que eram pródomos.

Depois de pouco tempo veio o início de febre que foi subindo devagarzinho e chegou a uns 38 e tanto (acho que meio). Meu marido falou com a parteira que no pediu para ir ao hospital, pois poderia ser uma infecção! A estas tantas já estava a umas 7hs com a bolsa vazando.

Me lembro do tom da voz da parteira me dizendo que eu sabia que se fosse para o hospital particular eles iriam fazer uma cesárea... E de eu dizendo que tinha medo de irmos sozinhas para um público e eu acabar sozinha, sem acompanhante e cesariada também! Consigo lembrar certinho daquele tom e de um medo tomando conta de mim ao mesmo tempo que me sentia sem saída!

Levantei, fiz uma lista de coisas para minha mãe fazer e buscar na minha casa, me troquei, peguei bolsa e fomos para o hospital.

Me senti atônita, esperançosa, desejosa, triste, feliz, pensando em mil palavras e ao mesmo tempo em nada! Acho que minha vontade era que nada daquilo fosse realidade...

AO descer do carro senti muita aguá saindo, as dores continuavam fracas, mas eram chatas, incômodas, doía o quadril, exatamente igual a quando eu tinha cólicas...

No ps fizeram os exames de praxe, minha febre havia desaparecido, estava entre o normal e o febril, batimentos da Lara ok, pressão ok, tudo ok (no fundo eu sabia disso).

Ao fazerem o toque minha tristeza, eu ainda tinha 1,5cm de dilatação, mas o colo "já" estava médio (era um progresso oras). O médico indica a cesárea, eu recuso, ele insiste, eu explico os motivos, ele faz cara de "acho que não", eu peço a indução, ele diz que poderia, mas que era tarde demais, eu insisto de novo, uso argumentos (poucos - estava comendo pelas beiradas, tentando não bater de frente), ele usa um golpe baixo, conta casos de morte de bebê por insistência da mãe em ter o parto normal, eu continuo a saber que posso, que temos tempo, que tudo estava bem, que ele estava pressionando... sozinha não podia, não queria ser teimosa na hora errada, não queria arriscar a vida da minha bebê, mas sabia que era besteira tudo aquilo, estava massacrada, derrotada e sem apoio... Aceitei. Chorei. Morri por dentro.

Subi para o quarto como quem vai a um enterro. Não era aquilo que desejava para o nascimento da minha filha, não eram aqueles sentimentos, eu queria estar alegre, eu queria estar feliz, mas eu sentia uma grande, imensa tristeza, meu coração apertado. Sabia que um grande suplício se iniciava ali!

Muita encheção de saco, rotinas, burocracias sem fim. eu estava irritada ao ponto de dar um belo coice em quem viesse me falar aborinha... e segurei algumas vezes, outras desembuchei!

Minha vontade era gritar com todas ali, era xingar aquelas enfermeiras, era fugir do hospital, mas eu tinha coragem? Não. Eu fui covarde! Covarde para lutar, covarde para falar, covarde para exigir, covarde para agir!

Fui. Lá estava eu deitada naquela maca tão fina que achava que eu cairia dela se me mexesse para os lado. Sozinha, sem meu marido. Que vontade de gritar, de correr, de sumir. Quanta aflição e dor me esperavam. Quanta indelicadeza, quanta frieza, insensibilidade. Quanta falta de respeito, quanta substimação!

A anestesia foi o momento de maior medo, angústia e desrespeito. Que ódio eu senti! Foi o momento em que deixei de ser a parturiente e virei um pedaço de carne viva a mercê de que me mexia e remexia!

O momento em que o Wil chegou perto de mim me trouxe mais alívio, mais carinho, mais segurança...

Que tristeza não saber se seu bebê está nascendo ou não, o que está acontecendo... Não sentir nada é a pior das condições do nascimento!

Ela nasce. Linda. Perfeita. Saudável.

Um pequeno miadinho surge e logo depois um vigoroso e dolorido choro, alto, estridente que não cessa, não para. É desesperador e triste.

Não a vejo. Só a vi depois de todos os procedimentos realizados. E quantos! Me dói o coração, me revira o estômago, me revolta saber o quanto a sua chegada ao mundo foi desesperadora, difícil e medonha para ela. Quanto medo ela não deve ter sentindo ao se ver, de repente, num lugar estranho, tendo sensções estranhas, o peso do corpo, que antes flutuava nas águas do ventre, agora aperta sesu músculos, ossos, pulmão e tudo mais! Para quê tudo isso? Desculpa filha! Desculpa por nunca poder mudar esta primeira experiência no mundo!

Quando ela vem, vem embrulhada, só vejo seu rosto e agora entendo sua feição (depois de ler Nascer Sorrindo entendo sua máscara), seu horror e entendo porque depois de tudo isso seus traços mudaram, na verdade voltaram a ser o que sempre foram.

Não me desamarram, não a encostam em mim, só consigo olhá-la bem de perto, e mais nada!

Vai embora, para longe de mim, o pai também!

Fico ali estendida, continuo a mercê, desrespeitada, inerte. Os médicos conversam as mais frívolas coisas, falam dos erros de seus colegas enquanto eu estou ali aberta, acordada, desrespeitada!

Uma lentidão, uma demora, mil burocracias...

Volto para o quarto, nem sei quanto tempo passou, mas acho que não mais que 1 hora...

Minha bebê vem mamar, ainda sujinha e posso vê-la melhor, pegá-la finalmente, não no colo propriamente dito, mas tê-la juntinho do meu corpo...

Nem dá para acreditar que eu já sou mãe. Foi tudo tão rápido, inesperado. Ainda não assimilei! Vejo, sei, mas não sinto que sou mãe!

Um sentimento de roube me invade a alma. De repente eu não tinha mais nada na barriga. Aqueles movimentos constantes e deliciosos não existem mais, eu nem senti eles terminarem, o processo de corte foi rápido e brusco demais, eu não estava preparada para perder minha menina assim.

Vai me caindo a ficha de que eu fui atropelada pelo sistema, de que sou só mais uma ali, uma a menos para dar trabalho, uma mais nas estatísticas, mais uma linda cesárea! Ninguém considera as consequências dela. Ninguém se preocupa comigo, meu bem estar. Ah, quer dizer, se preocupam sim, do me bem estar físico. Toda se recuperam não é mesmo, mais cedo ou mais tarde! Ninguém pensa nos nossos sonhos, desejos, planos! Por que a vontade do médico - sua preguiça, medo, despreparo, ponto de vista - vem sempre antes do nosso? É nossa vida, nosso corpo, nosso filho, nosso ponto de vista! Quem tem o direito de nos roubar isso? Quem tem direito de nos forçar? Quem tem direito de menosprezar a vida gerada, carregada, suportada, amada que nos pertence? NINGUÉM TEM! Que sociedade! Que mundo! Que seres humanos! Humanos? Acho que não. Seres individuais, não sujeito, porque sujeito é alguém, são seres, só isso! Individualistas. Olho no umbigo. Orgulho e prepotência. Miséria da sociedade.

Quando volta definitivamente para o quarto é muito bom, vê-la limpa, com suas feições verdadeiras, na roupinha que escolhemos, vê-la no colo do pai, feliz, orgulhoso... Aquilo foi uma gota de pureza e felicidade no meu coração!

Queria ficar ali, só nós três, falando de tudo, como tinha sido, o que tinha acontecido, falando dela, olhando para ela. Mas eu estava imóvel naquela cama, deitada, adormecida, não podia fazer nada, só olhar!

Como pode ser aceitável? Sonhar, desejar a vida inteira um bebê, ela chegar e eu ser espectadora? Como uma mãe pode ser espectadora neste momento? Que dor.

Naquele dia mais a noite nosso quarto foi invadido pelo som, não tão alto, dos fogos de artifício que anunciavam a chegada de 2010. Eu nem dava importância a eles, eles não significvam nada para mim. De relance pensei na minha mãe e família em casa. Olhei para o lado e vi minha bebê dormindo envolta nas coberta, serena, sem se quer mexer um dedo como barulho dos fogos!

É tão difícil absorver tudo isso quando os desejos e planos eram tão mais carinhosos e amorosos... dá remorso, dá fraqueza, dá tristeza novamente.

Saber a realidade de cada processo vivido tanto por mim quanto e principalmente por ela traz uma verdade dolorosa para o coração, algo irreparável, traz junto raiva, frustração, indignação!

Este dia foi o dia mais difícil que eu já vivi. E ambiguamente foi o dia mais feliz da minha vida! É difícil entender, explicar. Foi a realização de um sonho, a transformação de uma só carne em família. Foi ter fora de mim parte de nós.

Ficou a falta. Faltou sentir, faltou fazer, faltou nascer. Nascer um bebê e nascer uma mãe/mulher!

Lara foi nascida! Linda. Perfeita. Saudável. Maravilhosa. Alegria de nossas vidas. Benção do céu. Presente de Deus. Querida, desejada, gerada, cuidada, escrita nas mão do Criador, modelada.

Minha filha.
Nossa filha Wil!

LARA.

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